Por Equipe Conexão em 26 de março de 2019
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com maior taxa de cesáreas do mundo, de acordo com levantamento do Lancet – aqui, 44,3% dos nascimentos ocorrem desta forma. Estima-se que apenas de 10 a 15% deste percentual ocorra por motivos médicos, sendo os demais realizados sem fatores que justificariam o procedimento, de forma eletiva, e antes de a mulher entrar em trabalho de parto.
Diversos fatores separam o País de taxas adequadas – a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 15% –, que passam pelos pais e chegam à própria equipe médica.
“O primeiro deles é a resistência dos profissionais de saúde em acolher os desejos do casal por convicções técnicas sedimentadas pela formação e atuação nas últimas décadas”, afirma Rodrigo Borsari, gerente médico do Hospital Nipo-Brasileiro e ginecologista.
Depois, Borsari aponta a falta de infraestrutura, habilitação profissional e, ainda, informação segura e apoio aos familiares – o que permitiria a evolução natural do período final da gestação.
“Culturalmente, há uma ideia de que o parto normal tem que ser doloroso ou ‘arcaico”, completa Johnata Dacal, ginecologista da clínica Mais Excelência Médica.
Benefícios do parto normal
A indicação da OMS não é vã. A cesariana, como qualquer outra cirurgia, apresenta diversos riscos à mãe e bebê – riscos estes, de acordo com Dacal, “banalizados em busca de uma saída ao parto doloroso.”
“O parto normal traz benefícios para mãe e bebê não só durante o procedimento, mas posteriormente, para a vida da criança. Recuperação mais rápida, fácil mobilidade da mãe logo após o nascimento – o que favorece a amamentação e cuidados iniciais –, preparação pulmonar do bebê com a passagem pelo canal vaginal, diminuição da probabilidade de internação do bebê logo após o parto, entre outros, são razões para se debater e incluiu nas conversas do pré-natal a possibilidade segura do parto normal.”
Mostrar esses benefícios aos pais, especialmente à parturiente, é uma das formas mais eficazes de evitar cesarianas desnecessárias.
“Isso dá oportunidade aos pais de participar ativamente do parto, expondo suas opiniões e desejos. Assim, respeita-se a vontade deles sobre a via de parto com diálogo aberto e honesto, respeitando os limites técnicos de um parto seguro”, defende Borsari.
Para o hospital, continua Borsari, a assistência obstétrica respaldada em boas práticas leva à redução de custos com internações inesperadas na UTI neonatal.
O que pode ser feito para alcançar a meta da OMS?
Ampliar o diálogo sobre o tema é benéfico para mãe, bebê, profissionais e hospital. “Informação é tudo. Discutir os benefícios dessa via de parto desde as primeiras consultas de pré-natal é de suma importância para quebrar a ideia de que o parto normal é um parto antigo e doloroso”, orienta Dacal.
É válido mostrar à grávida – especialmente às que ainda possuem muitas dúvidas – depoimentos de paciente que já passaram por partos normais de sucesso. Abra o diálogo desde as primeiras consultas, evite agendar cesáreas – dando oportunidade para o trabalho de parto espontâneo –, ofereça folhetos informativos e acompanhamento multidisciplinar.
“Já ao hospital cabe criar uma cultura institucional de acolhimento das parturientes com desejo de tentar o parto vaginal, como visitas monitoradas, cursos de gestantes, rodas de conversa e canais de comunicação direta. Também é de grande trabalhar com uma equipe maior ou com a própria equipe de plantão, de modo a propiciar disponibilidade sem sobrecarregar um profissional”, finaliza Borsari.
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