Segundo pesquisas, mais da metade das brasileiras ingere a pílula anticoncepcional de forma incorreta, afetando sua eficácia
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Segundo pesquisas, mais da metade das brasileiras ingere a pílula anticoncepcional de forma incorreta, afetando sua eficácia

De acordo com José Bento, que é ginecologista no Hospital São Luiz e Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e colaborador sobre saúde feminina e contracepção no programa Bem-Estar, da Rede Globo, a pílula anticoncepcional é um método contraceptivo que necessita de muita disciplina por parte da mulher.

Isso se dá porque a eficácia do método depende que o comprimido seja ingerido oralmente, todos os dias e sempre no mesmo horário. “É um método que protege a mulher e pode evitar uma gravidez sem planejamento, mas deve ser tomada de maneira responsável”, diz.

Entretanto, parece que isso é algo que não está acontecendo no Brasil. Segundo estudo realizado em 2016 pela farmacêutica Bayer, as brasileiras são as que mais se esquecem de tomar pílula em comparação com mulheres de outras oito nacionalidades (Alemanha, Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França, Irlanda, Itália e México).

No Brasil, 58% das entrevistadas disseram que haviam esquecido de tomar o compromido pelo menos uma vez no último mês e pelo menos 89% delas relataram ter feito o mesmo no último ano. A média mundial de esquecimento ficou em torno de 39%. Além disso, 58% disseram que tomam a pílula em horários diferentes e quase 40% não achava necessário ter esse cuidado com a pontualidade da pílula.

Sem erro na hora de usar a pílula anticoncepcional

Para não ter erro na hora na eficácia da pílula anticoncepcional, especialistas indicam nunca deixar a camisinha de lado
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Para não ter erro na hora na eficácia da pílula anticoncepcional, especialistas indicam nunca deixar a camisinha de lado

O profissional explica que o principal erro na hora de tomar a pílula anticoncepcional é, exatamente, esse fator de esquecimento. Entretanto, ele sugere que a mulher ou o próprio parceiro coloquem um alarme de aviso no celular ou usem aplicativos que são próprios para controlar os métodos contraceptivos.

ginecologista Ana Carolina Lúcio Pereira afirma que outro erro comum é apostar na pílula do dia seguinte como contraceptivo nos casos em que mulher se esquece de tomar o anticoncepcional nos horários ou dias certos. “As pacientes que acabam usando a pílula do dia dessa forma podem ser prejudicadas, porque quando combinada com o anticoncepcional pode haver interferência e interação entre os hormônios dos comprimidos.”

Caroline Melo Magnani, ginecologista da clínica Mais Excelência Médica, complementa que a pílula do dia seguinte só deve usada em casos emergenciais e, de preferência, ser prescrita pelo ginecologista. “Seu uso indiscriminado pode alterar o ciclo menstrual e produzir efeitos colaterais indesejados por ser uma ‘bomba hormonal’. Também devemos lembrar que ela é um método que costuma falhar muito.”

A recomendação dos especialistas, nesses casos, é interromper o uso do anticoncepcional. “Se esquecer de tomar a pílula anticoncepcional, a mulher deve procurar imediatamente o seu médico, para que ele faça o melhor aconselhamento”, afirma Caroline. Depois da consulta com um profissional, o ideal é continuar tomando a pílula, mas sempre combinando este método com o preservativo, até o final da cartela.

Outra questão é que é extremamente importante transar com camisinha  nesse período em que a mulher deixou de tomar o comprimido, tanto pelo fato de que existe o risco dela ficar grávida, mas, também, porque o preservativo é a única proteção contra DSTs. “Uma relação sem proteção é suficiente para engravidar e o erro mais comum é a paciente achar que por usar pílula pode se abster da camisinha”, diz a ginecologista.

José Bento também reforça a importância de combinar métodos contraceptivos e lembra que existe um “prazo de eficácia” do comprimido para o caso da mulher esquecer de tomar. “Geralmente esse período é de até 48 horas, ou seja, mais ou menos dois dias. As pílulas anticoncepcionais que existem hoje possuem uma quantidade de hormônio muito pequena, então qualquer esquecimendo pode acarretar em uma gravidez não planejada.”

Consulte um especialista antes de tomar a pílula anticoncepcional

Antes de escolher a pílula anticoncepcional, é importante consultar uma ginecologista que possa auxiliar nesse processo
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Antes de escolher a pílula anticoncepcional, é importante consultar uma ginecologista que possa auxiliar nesse processo

Segundo Caroline Magnani, explica que que existem algumas questões que precisam ser analisadas pela mulher antes de iniciar um método contraceptivo como o anticoncepcional. São elas:

  • Conhecer o próprio ciclo menstrual;
  • Identificar sintomas e se possui queixas no período pré e durante a menstruação;
  • Problema de saúde ou hábito nocivo à saúde.

Após prestar atenção à esses fatores, Caroline recomenda agendar uma consulta com um ginecologista de confiança para que ele possa examinar a paciente, além de esclarecer dúvidas e solicitar os exames necessários. “A escolha da melhor pílula anticoncepcional deve ser feita em conjunto, entre o médico e a paciente.”

Ana Carolina acrescenta que a pílula já começa a funcionar a partir do primeiro comprimido ingerido. Mesmo assim, é recomendado acompanhar com atenção o uso durante o primeiro mês, já que este é considerado um período de adaptação. Nesse caso, é sempre importante observar quais foram os efeitos colaterais e demais reações ao medicamento.

“A mulher tem que saber que existem riscos antes de começar um anticoncepcional, como trombose ou sangramento durante os três primeiros meses, por exemplo, e esse período de adaptação na primeira cartela é importante para verficar isso”, diz.

“Quando a mulher não estar se adaptando bem ao comprimido ou esquecer frequentemente de tomá-lo, é importante retornar ao médico para procurar outro método contraceptivo que possa ser efetivo e a melhor forma de escolher é quando ela conhece os efeitos benéficos e reações.”

Sobre essas informações, a especialista  também recomenda pesquisar por outros métodos, principalmente para que o momento após o sexo não seja sempre de desespero e receio por uma gravidez. “É ideal procurar um método de longa duração. Existem desde metódos de barreira, como a camisinha, até dispositivos intra-uterinos, como o diu, por exemplo.”

“O mais importante é sempre conversar com o médico para entender qual é o melhor método para você, já que isso pode variar de pessoa para pessoa. A melhor escolha vai depender do perfil e dos riscos que a paciente apresenta, porque não adianta prescrever um método que não seja eficaz para ela. Muitas pacientes ficam grávidas mesmo usando a pílula, mas porque tomam de forma incorreta”, afirma.

Outros erros comuns, listados por José Bento, é procurar tomar o comprimido só quando o casal vai transar ou comprar a pílula por causa da recomendação de uma amiga que toma o mesmo medicamento e se adaptou bem.

“Por isso é tão importante que a mulher consulte um profissional que possa ajudá-la a escolher o melhor método e, também, que possa explicar as implicações para ela. O ideal seria que o companheiro dessa paciente também comparecesse à consulta junto com ela, para que a responsabilidade seja de ambos”, finaliza o profissional.